Thursday, July 3, 2008

Os altos e baixos do Euro 2008

Em jeito de balanço, gostaria de destacar três pontos altos e três aspectos menos positivos do Euro que findou no último Domingo. Com efeito, creio que existirá uma unanimidade relativamente à boa qualidade do futebol praticado, competitivade do torneio e vencedor inesperado, dado o seu historial. Não obstante, nem só de coisas boas se fez este Europeu. Comecemos então pelas questões menos positivas:

  • Grécia. Teria sempre de se esperar muito mais dos campeões europeus em 2004. Creio que Otto Rehagel não foi lesto a retirar as devidas ilações do apuramento para o Mundial de 2006. O futebol que lhe permitiu levar de vencida o campeonato organizado em Portugal foi perdendo os seus encantos e necessitava de evoluir. Ao recusar fazê-lo, Rehagel acabou por cavar um buraco na areia para si e para os seus jogadores. Grande parte das selecções sabia perfeitamente o que fazer para vencer a Grécia. Notou-se.
  • França e Itália. Pessoalmente, creio que a desilusão francesa é incomparavelmente maior, uma vez que parece decididamente uma embarcação completamente à deriva, sem rumo nem timoneiro. Quanto à Itália, apesar dos meus progonósticos, acabou eliminada nos penalties às mãos dos futuros campeões europeus, revelando falta de eficácia tanto a atacar como a defender e a ausência de desequilibradores para além de Pirlo.
  • A estrutura da competição. Muito já se falou, antes do Europeu, sobre a esquematização do mesmo. Emparelhar dois grupos até à final poderia ter-se relevado complicado, causando repetições de jogos de duas partidas após o final dessa fase. Creio que não haveria essa necessidade.

Em relação aos pontos altos, havendo muitos a destacar, gostaria de realçar três, começando pelo óbvio:

  • Espanha. Boa organização de jogo, boa forma de encapotar as falhas da sua própria equipa, um guarda-redes que não comprometeu e dois avançados muito bons (embora Torres tenha estado um pouco aquém das suas prestações em Inglaterra, o que nos poderia levar para a questão da qualidade dos defesas em terras de Sua Majestade). Xavi e Marcos Senna foram duas peças fundamentais, mas convém não esquecer Fabregas, Iniesta ou Villa.
  • Alemanha. Terceiro lugar no último mundial e finalista vencida no último Europeu. Se levarmos em conta as prestações anteriores a essas competições, poderemos ver que a Mannschaft foi capaz de dar a volta a uma tendência negativa que se vinha desenhando há alguns anos a esta parte, provando que uma boa mentalidade e eficiência são capazes de disfarçar falhas aparantemente muito importantes.
  • Turquia. Bem sei que, quando se fala na equipa de Ancara, se fala especialmente do seu "coração", fazendo referência à sua capacidade de luta. No entanto, por mais importante que seja, os turcos demonstraram algo mais do que isso - boa qualidade de jogo, boas movimentações, excelente leitura do jogo adversário e uma invulgar capacidade de sofrimento e entreajuda. Ao contrário do que o próprio afirmara anteriormente, o seleccionador Fatih Terim continuará até 2012.

Monday, June 30, 2008

Um vencedor inesperado

A Espanha nunca seria a minha aposta para vencer o Euro 2008. Não porque tivesse uma má equipa ou não merecesse estar na competição, mas sim pela já famosa tremideira nas pernas sempre que a ocasião era importante e por Aragonés. Não tendo idade suficiente para me lembrar de todas as glórias do decano treinador espanhol, propaladas sempre que é interveniente num jogo, apenas me recordo dos constantes disparates do mister espanhol, sejam eles tácticos ou mais sérios (como o caso de Reyes e Henry, por exemplo). Na verdade, sempre que vi equipas orientadas por Aragonés, vi onzes confusos, sem grandes ideias e uma leitura de jogo a fazer lembrar Scolari. Para além disso, havia a questão Raúl; hoje, dia a seguir à final do Euro, não se ouvirá ninguém dizer que foi uma má decisão, mas relembro o ruído que se gerou em Espanha devido a tal opinião.

Não obstante o que pudesse pensar, a Espanha foi a melhor equipa do Europeu, especialmente por ter sido a mais constante, a que melhor noção tinha do jogo que queria implementar e como poderia levar as suas intenções avante. Ontem, os espanhóis apenas sentiram algumas dificuldades no início (provando que tanto Puyol como Sérgio Ramos eram vulneráveis), devido ao pressing alemão que fez com que La Roja não tivesse o espaço necessário para criar jogo numa primeira fase. Ao fim dos primeiros 15 minutos, a Espanha desembaraçou-se e não mais recolheu as garras.

Com efeito, com Torres sozinho na frente de ataque, a equipa espanhola jogava num 4x1x4x1, com Senna atrás de Xavi, Iniesta, Fabregas e Silva. Desta forma, com algumas movimentações interessantes de Fernando Torres -ontem melhor do que no resto da competição - (ora caindo para a faixa lateral, ora apostando na sua velocidade e na lentidão dos defesas germânicos), havia sempre pelo menos um homem solto, graças também às trocas de bola e posição entre os homens do meio-campo, trabalhando sempre para que um deles pudesse encarar o meio-campo adversário e, com isso, fazer passes em profundidade para as costas dos laterais espanhóis. Foi assim que, aos poucos, a Espanha foi empurrando uma Alemanha que demonstrou todas as falhas que se lhe conheciam. A diferença foi que, desta vez, não houve Ricardo nem Rüstü e, como tal, nunca a Espanha teve de andar atrás do resultado.

Por seu turno, a Alemanha demonstrava o que se adivinhava: centrais com imensas dificuldades ao nível técnico e da velocidade, Lahm com um desempenho sofrível em termos defensivos (o primeiro golo foi mais um exemplo disso mesmo) e um Hitzlsperger que parece fazer pouco na equipa. Ballack pareceu sempre alheado do jogo (como quase sempre acontece), mas, desta feita, não teve livres nem remates de fora para brilhar - e isso costuma ser muitas vezes suficiente para fazer com que o capitão da Mannschaft não mais apareça em jogo. Klose bem lutou entre os centrais espanhóis, mas, sem apoio em condições, era difícil fazer melhor.

O outro momento em que a Espanha vacilou e que poderia ter alterado o rumo dos acontecimentos foi a entrada de Kuranyi para o lugar do inadequado Hitzlsperger. Durante 5 a 10 minutos, a Espanha pareceu não estar preparada para a alteração táctica (4x4x2, com Podolski e Schweinsteiger nas alas e Ballack e Frings no meio) e chegou mesmo a mostrar-se confusa. No entanto, a entrada de Xabi Alonso reequilibrou as contas e a Espanha continuou a fazer o que queria da defesa alemã e só não marcou porque não quis, ficando a dever a si própria vários golos mais.

Pessoalmente, tenho de confessar que preferia uma vitória da Espanha, embora temesse uma reedição da tradicional falta de nervo espanhola em momentos importantes, quer antes da final, quer durante os primeiros 15 minutos. No entanto, esta selecção pareceu quase sempre bastante focada no objectivo final e (estranhamente para mim) bem orientada em termos tácticos, raramente abdicando do seu jogo. Tenho para mim que, não fora Marcos Senna, a Espanha não teria conseguido chegar tão longe, pois sempre teve jogadores de craveira igual ou superior à de Xavi, Iniesta ou Silva, mas raramente pôde contar com um jogador tão inteligente, disponível e físico como o brasileiro naturalizado espanhol do Villareal. Graças a ele, os restantes elementos do meio-campo e da defesa puderam encarregar-se mais descansadamente das suas acções. Graças a ele, Ballack não se viu e a Alemanha quase nunca conseguiu entrar pelo meio. Graças (também) a ele, a Espanha tinha sempre uma boa hipótese de começar ou continuar o seu jogo ofensivo e um constante equilíbrio defensivo.