Saturday, November 29, 2008

Aragonés

Deparei-me agora com um texto anterior e volto a reforçar a minha ideia. A vitória da Espanha no Europeu poderá ter sido totalmente merecida, mas Aragonés continua igual a si próprio, deixando o perfume do seu futebol (ou a falta dele) por todo o lado onde passa. Até os menos capazes acertam...

Leõzinhos com as garras recolhidas

É muito estranho constatar que, no cúmulo dos dois jogos com o Barcelona, o Sporting encaixou nada menos do que nove golos. Sim, poderíamos aqui abrir um espaço para abordar todas as maravilhas do futebol dos catalães, para referir que já aplicaram várias vezes a famosa "chapa 5" a adversários ao longo desta temporada. No entanto, não deixa de ser curioso que um treinador tão afeiçoado à construção de uma equipa de trás para a frente, como é o caso de Paulo Bento, não consiga ter um remédio para pelo menos estancar a hemorragia, aparentemente.

Independenetemente de todos os méritos tácticos e técnicos do Barcelona, os leões pareciam completamente adormecidos, apáticos e desinteressados. E isso começa a ser já uma regularidade assustadora no onze do Sporting - e, para mim, pelo menos, totalmente imprevista. Não sei até que ponto a constante instabilidade emocional de Paulo Bento na sua relação com os árbitros e questões afins se imiscuiu no balneário ou se há egos a mais à espera da (suposta) contratação por um tubarão europeu. Seja como for, é difícil conquistar títulos quando se anda constantemente a recuperar de desvantagens.

"Nem tão maus antes, nem tão bons agora"

Acabei agora mesmo de ler esta frase de Jesualdo Ferreira. Mesmo não sendo um dos maiores defensores do treinador do FC Porto, reconheço sem qualquer problema que era um homem com quem gostaria de ter uma conversa franca e aberta, sem os subterfúrgios de quem o quer apanhar num qualquer mal-entendido ou de quem não quer deixar entrever nada do que de menos bom se possa passar na sua casa. A sua frase de hoje serve-me de leitmotiv para escrever sobre o momento do FC Porto. Depois de um início de época algo tremido (as famosas três derrotas consecutivas com Dinamo de Kiev, Naval e Leixões, para além da copiosa derrota no terreno do Arsenal), a equipa azul e branca conseguiu por fim encontrar o seu rumo. Ainda longe de encantar os espectadores com o seu futebol (como aconteceu em alguns momentos da época passada), o plantel do Dragão já começa a dar sinais de outra atitude, acima de tudo.

Creio que uma justificação (forçosamente simplista) incluirá dois pontos fundamentais: o tempo e a estabilização. O primeiro ponto é algo que raramente existe no futebol, especialmente o português, pois esperamos sempre que o nosso clube, seja ele qual for, seja capaz de espezinhar todos os adversários - nacionais e europeus - em menos de um fósforo. Não queremos esperar por uma melhoria constante, pela integração de novos jogadores (muitas vezes, jovens), pela eventual alteração do modelo de jogo no caso da partida de um jogador fundamental na época anterior. Em contraponto, tenho de louvar os dirigentes das SAD dos três "grandes", pois todos eles foram capazes de resistir à tentação face a resultados extremamente pesados que todos eles sofreram ao longo dos últimos dois meses.

O segundo ponto terá necessariamente a ver, na minha opinião, com a estabilização do onze titular. Jesualdo conseguiu por fim reencontrar o seu caminho (parecendo estar muito tempo, talvez demasiado, transviado em relação aos seus princípios fundamentais), assentando cada vez mais numa equipa-tipo, com uma ou outra hesitação. Seja como for, a equipa parece agora muito mais identificada com o modelo de jogo que o treinador pretende implementar e já nem a saída de Lucho é capaz de impedir uma das melhores exibições da época do FC Porto, em pleno inferno turco.

Gostaria no entanto de alertar para algumas fragilidades dos dragões:
  • Rodríguez continua a não conseguir mostrar todos os argumentos que o notabilizaram na Luz. O jogador uruguaio, com efeito, continua a debater-se com enormes dificuldades para mostrar todo o seu potencial, em grande parte por jogar demasiado encostado à linha e por raramente ter liberdade de aparecer de frente para os seus opositores, dificultando em grande medida o seu arranque.
  • Hulk continua a ser o exemplo mais paradigmático de "besta/bestial". Tanto é capaz de reduzir os seus adversários a pó com a sua força e velocidade, como demonstra como é possível desperdiçar óptimas oportunidades de finalização ou de contra-ataque com o seu individualismo. Se o jogo na Turquia era à medida para as suas características, poucos jogos daqui para a frente contarão com um adversário tão voltado para a frente e tão desprotegido nas suas costas, o que nos leva ao terceiro ponto.
  • Sim, as famosas transições rápidas de Jesualdo têm funcionado melhor, sem dúvida. No entanto, o FC Porto raramente irá encontrar, ao longo do que resta da época, adversários tão adequados ao seu modelo de jogo. Na sua maioria, os azuis e brancos vão enfrentar equipas muito mais resguardadas, à espera do erro portista (que não tem sido raro, nesta temporada). As fragilidades do ataque continuado continuam à vista e por resolver. A ver vamos o que nos mostrará o jogo frente à Académica.
  • Lisandro. Creio que não faltará muito para podermos dar resposta a uma questão importante: custará mais dinheiro ao FC Porto aumentar o salário de Lisandro ou não o aumentar?

O Benfica

Antes de mais uma ronda, tinha intenção de escrever um texto elogioso para com Quique Flores. Infelizmente, não me tem sobrado muito tempo para ver futebol, quanto mais comentá-lo. Seja como for, cheguei à conclusão de que este texto faz ainda mais sentido hoje, dois dias depois da pesada derrota do Benfica na Grécia (declaração de honestidade: não vi o jogo de quinta-feira e, como tal, posso não partilhar da revolta de muitos dos que puderam ver a suposta "tragédia" em directo).

Quique é um bom treinador. Mais, creio que é o treinador de que o Benfica precisa. Na verdade, creio que é o treinador (ou, pelo menos, um dos treinadores) de que Portugal precisava. É equilibrado no que diz, mostra-se sempre cortês, não perde as estribeiras, não se deita a lançar críticas aos árbitros, ao "sistema", à federação, à liga e a tudo o mais que esteja minimamente relacionado com o futebol quando perde. Pelo contrário. Assume sempre as suas responsabilidades e vai dando inúmeras pistas que vão permitindo vislumbrar para onde quer ir - tanto a nós, meros espectadores, como aos jogadores. Tinha aqui escrito, no início da época, que Quique tinha tudo para ser um dos melhores treinadores do Benfica, assim lhe dessem tempo. Pessoalmente, continuo a achar o mesmo, passados alguns meses. A equipa encarnada pode ainda não ter futebol suficiente para ombrear com os melhores da Europa, mas tem pelo menos algumas metas e objectivos definidos. E isso é sem dúvida um excelente ponto de partida.

Deixo apenas um ponto para reflexão: Alex Ferguson, por muitos considerado um dos melhores treinadores do mundo, não foi capaz de conquistar qualquer troféu durante os seus primeiros quatro anos. Até que ponto Ferguson não estaria no desemprego, se trabalhasse em Portugal? Se o Manchester United não tivesse tido paciência e a noção de que tinha feito a escolha acertada para um futuro mais alargado do que o mero resultado do fim-de-semana, os portugueses poderiam ter perdido a melhor versão de Cristiano Ronaldo.

Bola de Ouro para Ronaldo, já!

Depois de ver os três últimos jogos de Cristiano Ronaldo, venho juntar-me às vozes que reclamam a eleição do 7 do Manchester United como o melhor jogador do ano (essencialmente, as várias vozes de Ronaldo em todos os meios de comunicação onde lhe permitem reivindicar o direito exclusivo aos três primeiros lugares). Se essa for a solução para começar a passar a bola, saber ouvir os assobios dos adeptos e não levar a peito qualquer toque ou gesto de adversários, parece-me óptimo. Se essa for também a forma de a imprensa - desportiva e não só - deixar o assunto morrer em paz, tanto melhor. Pela minha parte, digo com toda a convicção: Bola de Ouro para Ronaldo, já!