Monday, January 5, 2009

Um olhar pelo estrangeiro

Tive oportunidade de assistir este fim-de-semana a um curioso programa de televisão num canal que, em boa verdade, nem sei bem qual era nem qual o seu propósito. Interessa para aqui, isso sim, que pude presenciar durante uns quinze a vinte minutos o dia-a-dia da gestão de um clube da elite europeia - o Ajax. Estranhamente, tanto treinadores como dirigentes não pareciam importar-se minimamente de serem perseguidos por câmaras e microfones enquanto tomavam as decisões do seu dia-a-dia.

Muito mais estranho, contudo, era o modo como se tomavam decisões naquele clube na época de 1997-2000. As decisões de prolongar contratos ou não eram tomadas numa breve reunião onde se discutiam inúmeras outras coisas, as combinações de resultados que permitiram que o Ajax entrasse ou não na Liga dos Campeões eram discutidas no túnel de acesso do campo onde se iria realizar o último jogo, as palavras e acções de treinadores e jogadores da equipa principal pareciam retiradas de um filme surreal onde ninguém sabia muito bem o que estava ali a fazer, entre muitas outras pérolas que permitiram confirmar que o mundo do futebol continua extremamente desorganizado e uma tertúlia muito pouco profissionalizada de círculos fechados.

Deixo-vos apenas como exemplo a imagem (ainda que mental) de um Jan Wouters - à altura treinador da equipa, sem qualquer ideia sobre o que fazer nem qualquer tipo de controlo sobre a sua equipa - como treinador de uma das principais equipas da Europa, com uma carreira com menos de três curtos anos sem qualquer feito digno de registo, a ser despedido em pleno jogo de centenário do clube, ao passo que os dirigentes apenas pareciam saber querer despedi-lo, mas sem noção de quem viria a seguir ou com que perfil.

Para aqueles de nós que acham que tudo o que se faz de mal tende a concentrar-se em Portugal, seria bom deitar uma vista de olhos.

Da derrota do Benfica

Gostaria de fazer aqui um pequeno parêntesis para abordar o actual momento do Benfica. Antes de mais, a vertente física. Onde está a propalada forma física encarnada, sendo que nenhum jogador parece capaz de aguentar uma série com mais de três jogos e os que conseguem ostentam tão má forma? Bem sei que, segundo Mourinho e restantes discípulos, não existe forma física per se, mas apenas englobada no seu todo, mas o trabalho de Pako Ayesterman não está a dar os frutos necessários, parece-me.

Quanto à questão táctica, talvez ainda não tenha à minha disposição todos os dados para poder fazer uma avaliação mais justa, mas Quique Flores parece-me não ter compreendido ainda que não parece ter esquema para os jogadores que tem. Mais, parece-me não ter adversários para os adversários que vai encontrar. Com efeito, continuo a ser da opinião que o sistema que Quique trabalha de forma privilegiada continua a ter um enorme defeito: o organizador de jogo continua a ser um dos dois membros centrais do meio-campo (geralmente, Yebda ou Carlos Martins). Dessa forma, a equipa parece ficar sempre desequilibrada quando perde a bola, por mais que Ruben Amorim tente compensar essas ausências, uma vez que Reyes raramente defende (Di María ainda menos), Aimar está algures lá na frente, Binya parece completamente alienado nesta equipa (reforço o que já aqui tinha dito no lançamento desta época) quase encostado a Suazo, e Carlos Martins é Carlos Martins, sempre capaz do melhor e do pior, com inteligência táctica insuficiente para cumprir um papel tão importante e suceptível de falhas, na minha opinião. E equipas mais pequenas (especialmente a jogar em casa) ansiosas por aproveitar esse espaço não faltam.

2009 já chegou...

... e o futebol não mudou. Excepção feita à rima de má qualidade (involuntária, mas necessária), o futebol trouxe aquilo que sempre conhecemos até aqui: a famosa passagem de besta a bestial em menos de um fósforo. De um lado, João Eusébio, o agora ex-treinador do Rio Ave, que não resistiu à derrota em casa contra o Vitória de Guimarães. Na verdade, continuo sem compreender bem os dirigentes que despedem treinadores desta forma, aparentemente sem qualquer razão de ser. Tomando em consideração as limitações e objectivos do clube vilacondense, quais são ao certo os pecadilhos do treinador? Jogar de forma pouco atractiva? Sofrer até atingir a manutenção no principal campeonato português?

Um pouco mais abaixo, Quique Flores, vítima de apupos (juntamente com alguns jogadores, especialmente o eterno Binya). Na verdade, creio que Quique está neste momento a ser refém de si próprio. Mais concretamente, parece-me que o treinador benfiquista está a ser julgado à luz da ilusão que os adeptos benfiquistas já tinham criado de que dobrar o Natal em primeiro equivaleria a chegar em primeiro em Maio. Afinal, as dificuldades e a remodelação de que todos os dirigentes da Luz falavam eram apenas para desviar as atenções dos adversários... Ou seja, o aparente sucesso da equipa (embora pouco suportado por exibições convincentes) elevou Quique aos píncaros, apenas para lhe ser tirado o tapete quinze meros dias depois.