Thursday, May 14, 2009

Mais um ano à deriva


"Mais uma voltinha, mais uma viagem." Pois bem, somos novamente chegados a Maio e já se ouve falar há algum tempo de contratações para os lados do Estádio da Luz. Porque estes eventos nunca surgem isolados, a vinda de novos jogadores é quase sempre acompanhada do sururu à volta do novo treinador dos encarnados, uma vez que o actual não cumpriu mais uma vez os objectivos. Na verdade, este texto está a ser escrito hoje, mas podia muito bem ter sido escrito em cada um dos últimos 15 anos, período durante o qual o maior clube português contou com 17 treinadores, tendo sido campeão por duas vezes.

Esperei que Rui Costa conseguisse trazer algum bom senso à nação benfiquista, convencendo o seu presidente e restantes dirigentes de que nem sempre o melhor caminho para o sucesso é fazer tabula rasa do ano que finda - especialmente com a época ainda a decorrer. Infelizmente, não foi o caso. O Benfica irá previsivelmente proceder mais uma vez a uma revolução no balneário, servindo novamente de porta giratória e parecendo ter uma invulgar característica: a de não aprender com os próprios erros. Se olhar para Norte custa tanto ao seu presidente, pois que olhe para o outro lado da Segunda Circular, onde se trabalha com mais seriedade, rigor e noção de continuidade. Caso contrário, o presente do Benfica tenderá a perpetuar-se.

Quando uma boa decisão se transforma num erro


Serei o primeiro a afirmar que o sucesso de um treinador de futebol não se mede apenas em títulos. No entanto, enquanto via na passada semana a equipa de Arsène Wenger a ser mais uma vez eliminada sem apelo nem agravo às mãos do Manchester United, não consegui deixar de me interrogar sobre os critérios de avaliação do trabalho de um treinador. Sim, o mister francês granjeou uma reputação de descobrir jovens talentos, mas a equipa londrina parece sempre um onze desgarrado, ainda e sempre sem maturidade táctica e mental para vingar nos momentos decisivos. Onde pára o dedo do treinador? Quando é que este Arsenal deixa de ser uma equipa em constante evolução - especialmente quando está longe de estar coarctada em termos orçamentais?

Um peso pesado


Será coincidência que a melhor série de resultados (e de exibições, acrescento eu) do Sporting tenha coincidido com a lesão de Rochemback? Com o brasileiro de fora, a equipa leonina conseguiu melhorar a marcação defensiva e alcançar uma maior variedade em termos de passe e movimentação. Será apenas coincidência?

O duplo pivô

As últimas semanas têm sido férteis em acontecimentos a todos os níveis. Num dos últimos fins-de-semana, tive oportunidade de encher a barriga de futebol e poder voltar a escrever com mais alguma propriedade. Foi assim que me deparei com o aparente falhanço daquilo a que os espanhóis chamam “doble pivot”, que, na prática, mais não é do que a colocação de dois jogadores à frente da defesa vocacionados para tarefas ofensivas e defensivas.

Com efeito, tanto Real Madrid como Benfica demonstraram a enorme falibilidade deste sistema. Responder-me-ão os mais conhecedores que não são os sistemas que decidem os jogos, antes as suas dinâmicas. Estou inteiramente de acordo. Defendo apenas que há sistemas mais eficazes e de fácil compreensão para os dias que correm. É preciso não esquecer que os tempos ditam algumas tendências no que diz respeito a tácticas, tácticas essas que são mais facilmente apreendidas pelos jogadores a curto prazo.

No que diz respeito ao Benfica, por exemplo, continuo a sustentar que o modelo de jogo de Quique Flores poderá vir a vingar (quanto mais não seja por contar com melhores valores individuais), mas continuo sem ver uma exibição consistente e refinada por parte dos encarnados. O sistema e as movimentações poderão até estar bem delineados, mas algo na mensagem do treinador espanhol parece não estar a chegar aos destinatários. Depois de quase uma época a ver o Benfica jogar, os movimentos dos seus jogadores parecem-me sempre muito mais circunstanciais do que fruto de uma rotina pensada e burilada.

Quanto ao Real Madrid, cometeu o (enorme) pecado de – à boa maneira espanhola – tentar combater o adversário olhos nos olhos. Com o Barça inspirado, esse poderá ser um erro fatal, como acabou por se revelar. Na verdade, ao ver o Real Madrid, pareceu-me estar na presença de uma equipa (inglesa) de há décadas atrás. Diarra e Gago no centro do terreno, incumbidos de fazer frente às inúmeras investidas do Barcelona por essa zona do campo, deixando Higuaín, Raúl e Robben plantados lá na frente. Se, nos dias que correm, já é quase impensável ver jogadores que não participem em todas as fases do jogo, arriscar isso contra este Barça é por certo o caminho para o fracasso, desenganem-se os mais recentes detractores do Chelsea. Mesmo tendo chegado primeiro à vantagem, a equipa madrilena continuou a jogar em cima, não optando por se resguardar, tendo a situação piorado a olhos vistos quando se lançaram aparentemente à toa para cima do adversário quando deram por si atrás no marcador.

Em resumo, porque o texto já vai longo, creio que o duplo pivô tem algumas falhas intrínsecas, como, por exemplo, o enorme espaço entre linhas – tanto na horizontal como na vertical – que subsiste entre os sectores da equipa. Por outro lado, parece-me também importante destacar o facto de este sistema deixar implícita uma reduzida organização e solidariedade ao nível da tarefa, ao deixar um grande número de acções para o mesmo grupo de jogadores.