Tuesday, October 30, 2012

Tanto para fazer em tão pouco tempo


Franky Vercauteren é o próximo treinador do Sporting, mas talvez nem ele próprio tivesse noção da magnitude da tarefa que terá em mãos. De há vários anos a esta parte, o Sporting tem-se resumido quase exclusivamente a um punhado de jogadores, geralmente abandonados à sua sorte, rodeados por um constante circo mediático e treinadores fragilizados. Acontecerá o mesmo com o técnico belga?

Qualquer análise táctica da equipa de Alvalade tende a ser extremamente trabalhosa, uma vez que raramente se tem a noção da existência de uma equipa rotinada pelo(s) seu(s) treinador(es). Com efeito, para um observador externo com recurso apenas aos jogos disputados, é muito difícil encontrar ordens ou instruções pré-estabelecidas e metade da equipa parece pensar o jogo de forma muito diferente da restante metade. O que mais choca ao ver as actuações leoninas são as exibições, mais do que os resultados. Ao contrário da opinião de Oceano Cruz, os erros pelos quais o Sporting tem sido castigado não são de ordem individual.

Independentemente do talento individual existente, cabe ao treinador definir algumas directrizes básicas e, com base nessas linhas orientadoras, trabalhar do geral para o particular. As mais recentes versões do Sporting não têm demonstrado que o treinador (seja ele quem for) tenha sido capaz de fazer passar a sua mensagem, continuando a desapontar os seus mais fiéis seguidores. Com base neste e em muitos outros encontros, Franky Vercauteren tem em mãos uma tarefa árdua. Analisemos mais de perto algumas das principais questões, por ordem aleatória.

1. Ricky van Woflswinkel. É triste ver tanto potencial desperdiçado. Vercauteren necessita de recuperar a confiança perdida do avançado holandês e transformá-lo novamente numa máquina de fazer golos. A recepção de Wolfswinkel parece estar a piorar de dia para dia e a sua velocidade está longe de ser o que era. Tendo em conta a falta de alternativas válidas, o ponta-de-lança sportinguista precisa de estar na sua melhor forma.

2. Um onze estável. Não se trata aqui de defender que os mesmos onze jogadores deverão ter lugar garantido independentemente das prestações ou da forma, mas, ao passo que é relativamente simples referir o onze mais comum de FC Porto, Benfica ou Braga, acertar na equipa titular do Sporting assemelha-se a uma obra do acaso. Vercauteren deverá definir um grupo de jogadores à volta do qual possa criar a espinha dorsal da equipa.

3. Um modelo de jogo claro. Tal como acontece com a questão mais acima, não se trata de afirmar que o treinador não poderá alterar a sua disposição táctica, mas, ao longo das últimas épocas, o número de organizações tácticas impostas aos jogadores do Sporting é verdadeiramente surpreendente. Sim, é possível (e desejável) ser tacticamente flexível, mas só após definir o modelo de jogo principal com clareza.

4. Evitar em definitivo situações comprometedoras. Conforme referido neste mesmo blog, a cobertura ofensiva é um dos aspectos primordiais do futebol moderno, algo que o Sporting não parece dominar de todo. Analisemos mais de perto alguns exemplos.

O Sporting acaba de perder a bola e está já totalmente desequilibrado.

Um mero segundo depois, a Académica já dispõe de superioridade numérica.

Neste caso, Schaars sofre uma intensa pressão,
mas ninguém se aproxima nem encurta o campo.
A área a sombreado representa uma potencial avenida para o golo.

Esta jogada teve lugar perto do intervalo.
Note-se no número de opções de passe seguras.
A Académica parece muito mais organizada e perigosa.

Rinaudo passa para trás e os jogadores do Sporting permanecem distantes.
Pressentindo o perigo, a Académica ataca imediatamente Rojo.

Passaram já cinco segundos e o Sporting não dispõe
de mais do que quatro jogadores, igual número à Académica.

5. Sair a jogar. Se uma equipa faz tenções de vencer encontros de forma consistente, deverá jogar em função das suas qualidades, não permitindo que seja o encontro a orientar o jogo. O Sporting não poderá basear-se em Boulahrouz ou Rinaudo para comandar a sua forma de jogar, sob o risco de perderem a bola com inusitada facilidade, conforme aconteceu hoje uma e outra vez. Vercauteren não deverá ter medo de despender algum tempo a instruir os seus jogadores a sair a jogar desde trás (na linha do seu passado enquanto jogador e treinador). O Sporting necessita urgentemente de uma noção de finalidade para o seu jogar.

Este ângulo é perfeito para compreender
a perspectiva do portador da bola
e as suas dificuldades para encontrar um colega livre.